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A importância dos Memoriais no Projeto AEC

“Uma imagem vale mais do que mil palavras”, diz o ditado. Mas nem todo mundo é especialista para interpretar ou analisar imagens. Além disso, não há garantia de que entre as mil palavras estão, de fato, exatamente as que precisam ser ditas. Não podemos ficar seguros de que as imagens serão sempre bem compreendidas.


Se esta é a situação para fotos e pinturas, imagina para desenhos técnicos, que exigem capacitação para sua compreensão. Eis um dos motivos para valorizarmos os memoriais que compõem um projeto de Arquitetura e Engenharia.

Com base nas teorias de comunicação, incluir bons memoriais no projeto aumenta a audiência da sua mensagem, ou seja, mais gente é capaz de compreendê-lo.


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É claro que a principal função dos documentos de um projeto de arquitetura e engenharia é estabelecer comunicação entre agentes técnicos do processo de implantação de um empreendimento. Mas não é a única, pois há muitos subprocessos comunicacionais em andamento neste grande processo de implantação.


Podemos citar, a título de exemplo, as relações contratuais que referenciam o projeto, mas eventualmente são geridas por profissionais de outra especialização, como os advogados. Relações comerciais podem ser geridas por administradores. O próprio empreendedor, que surge como parte principal em várias das relações, pode ser leigo em arquitetura e engenharia.


Isso significa que o projeto deve ser passível de compreensão, ainda que parcial, por vários profissionais de formações diversas. Muitas das informações do projeto interessam a muitas relações e comunicações entre diversas das partes interessadas. Dirigir a informação correta, na linguagem adequada, aos públicos diversos é um desafio para o projetista.


É claro que sempre é possível usar o apoio de imagens menos técnicas, tratadas exatamente para simplificar sua compreensão. Por exemplo, as plantas humanizadas utilizadas pela publicidade dirigidas ao público em geral. Mas, muitas das relações não permitem o subjetivismo comum nas interpretações de imagens, ou pelo menos não são adequadas a ele. O exemplo clássico são as relações jurídicas estabelecidas pelos contratos.


Os memoriais, por serem documentos baseados em texto, são mais adequados a esse tipo de relação. E eles não devem depender exageradamente de imagens, quadros, gráficos etc. de conteúdo técnico especializado. Para cumprirem sua função comunicacional, memoriais precisam ser de fácil entendimento. A ideia é simplificar a compreensão.


E não para por aí... Memoriais possuem outras funções importantes.

Os desenhos e documentos de linguagem mais técnica costumam focar a descrição das soluções dadas ao projeto, mas raramente são capazes de justificá-las. Dizem o que deve ser feito, mas não costumam explicar o porquê. Essa explicação depende de uma lógica de entendimento, com argumentos concatenados adequadamente. Isso, normalmente, é mais fácil desenvolver na forma de narrativas, textos.


A função das explicações no projeto de arquitetura e engenharia é evitar preventivamente os questionamentos, dúvidas e tentativas de mudança. Os projetistas são, em teoria, os maiores conhecedores das demandas e problemas sanados pelas soluções projetadas e, como todo problema costuma admitir bem mais de uma solução possível, é preciso explicar por que foi selecionada uma específica. Se não for assim, sempre haverá a possibilidade de alguém propor mudanças no decorrer do processo.


O problema das mudanças feitas no calor da execução das obras é que a atenção, neste período, está focada nas questões práticas da implantação. Mas as soluções são criadas pensando na operação das atividades que terão lugar no empreendimento e na manutenção dele ao longo do seu ciclo de vida. Isso não pode ser perdido de vista quando se discute as soluções criadas.

Os memoriais são os documentos mais importantes nesta defesa das soluções técnicas. É como ter a voz do projetista ecoada nos documentos do projeto argumentando em sua defesa.


Outro aspecto importante, que precisa constar no projeto e que também é uma forma de explicação, diz respeito ao dimensionamento dos elementos dos seus vários sistemas. Tudo é ajustado para operar em faixas bem definidas de desempenho mecânico, hidráulico, elétrico, espacial, climático etc.

Para isso os projetistas modelam os sistemas segundo as teorias especializadas em suas áreas. Baseados nas características e propriedades dos elementos e materiais, estabelecem suas dimensões.


Há nisso, um importante processo de comunicação que ocorre entre os diversos projetistas, pois todos os subsistemas do empreendimento devem interagir harmoniosamente. Isso inclui um ajustamento dimensional, por exemplo, quando um sistema de climatização tem faixa de operação adequada aos tamanhos dos espaços, aberturas e direções de insolação, propriedades de condutividade térmica das paredes, atividades em seu interior, emissão térmica dos equipamentos etc. Veja que tudo interfere em tudo. Integrar todas as soluções exige muito debate e entendimento. Os memoriais têm também a função de apoiar essa integração e registrar a equalização dada às soluções neste aspecto dimensional.


Além de explicar estes ajustes entre os sistemas, ficam os registros para certificar a assertividade das dimensões estabelecidas. Afinal, não se pode esperar que os cálculos não sejam esquecidos, sendo altamente necessários que os modelos teóricos e os parâmetros de dimensionamento sejam recuperáveis sempre que os dimensionamentos precisem ser revisados ou verificados.


Trata-se de uma espécie de proteção para as soluções, pois qualquer mudança nelas deverá ser avaliada segundo seu impacto no dimensionamento e integração. Nos casos de maior responsabilidade, o registro pode proteger projetistas, no sentido que que seus dimensionamentos sejam certificados antes da execução.


Isso é excepcionalmente importante diante da ocorrência de problemas de operação, manutenção e até de execução de obras que gerem prejuízos ao empreendedor. Se os modelos teóricos, parâmetros de solicitação e cálculos estão corretos, os problemas provavelmente têm outras causas, não o dimensionamento.


Por fim, a visão comum de que os documentos do projeto são representações das soluções é limitada em relação às suas funções. Representar é apenas uma delas. Sem dúvida é, talvez, a mais importante, mas não a única. Em situações específicas, ou para partes interessadas específicas, explicar as soluções em termos operacionais, de manutenção e quanto ao seu porte (dimensionamento) pode se mostrar tão ou mais importante que a mera representação. Nestes casos, conforme a audiência, as palavras podem ser mais claras e objetivas que as imagens.

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